segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"O protesto será pacífico e não há nada a temer"

fonte: jornal i

Troika e sacrifícios fazem com que PSP dê atenção especial aos protestos
Por Luís Claro, publicado em 3 Out 2011 - 03:00 | Actualizado há 1 hora 47 minutos

Porta-voz da PSP garante que “não há sinais” de manifestações que envolvam violência



Os protestos arrancaram no primeiro dia de Outubro e este mês vai ficar marcado por várias acções contra as medidas de austeridade. As movimentações de rua inauguram uma nova fase na vida do governo liderado por Passos Coelho - que até agora tem sido poupado ao conflito social - e as autoridades estão atentas a um período especialmente sensível da vida nacional. O porta-voz da PSP, Paulo Flor, confirma ao i que “face à troika, às restrições e à realidade da Grécia é natural uma atenção especial para estes fenómenos sociais”, mas garante que “não há sinais de qualquer movimento de contestação social com violência” ou a existência de “grupos extremistas”. “Isso está posto de lado” acrescenta.

O ambiente de tensão social, numa altura em que as medidas de austeridade se vão intensificar, faz com que muitos– inclusive o governo e as autoridades– olhem com atenção para os casos da Grécia e de Londres. O sindicalista da UGT Nobre dos Santos alerta que é preciso “muito cuidado” e considera que “manifestações inorgânicas podem degenerar em violência”. “Há situações de carência grave, mesmo dentro da Administração Pública. Estas situações podem dar origem a episódios imprevisíveis”, diz o secretário-geral de um sindicato de trabalhadores da Função Pública.

O primeiro-ministro foi o primeiro a avisar que o governo saberá distinguir entre o direito à manifestação e “aqueles que pensam que podem incendiar as ruas”. Uma declaração que deixa transparecer alguma preocupação que a tradicional contestação de rua descambe para actos de violência.

Os especialistas admitem o risco de motins, mas não dramatizam. “O problema pode vir de manifestações inorgânicas e espontâneas”, diz José Manuel Anes, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, prevendo que “as pessoas se manifestem cada vez mais”, embora acredite que, nesta altura o “risco de motins é reduzido” e que “o mais provável é o aumento da criminalidade”.

Também o ex-ministro da Administração Interna, Figueiredo Lopes, admite que “o risco existe sempre”, mas “esse risco está atenuado, no caso português, porque existe a consciência de que os sacrifícios são necessários”.

O ex-ministro de Durão Barroso entende que o governo pode contribuir para evitar revoltas se trabalhar para que “não exista um sentimento de exclusão de algumas classes sociais em relação a outras” e “fazer um esforço para explicar as medidas de austeridade”. “isso nem sempre tem acontecido”, diz Figueiredo Lopes.
Uma das maiores preocupações dos especialistas vai para as manifestações informais não convocadas por organizações sindicais e, apesar de a manifestação de 15 de Outubro, convocada por movimentos de trabalhadores precários e da chamada “Geração à rasca” se apresentar como uma manifestação pacífica, um elemento de uma das organizações que apoia o movimento, Renato Teixeira da revista Rubra, admite que a pesada austeridade pode justificar actos de violência. “Eles são compreensíveis à luz de uma violência maior que tem um intérprete político”, diz, ressalvando que a manifestação do dia 15 é pacífica.
“Às vezes basta uma coisa de nada para rebentar o saco”, alerta Paulo Rodrigues, presidente do maior sindicato da PSP, confirmando que “a PSP está atenta e há uma preocupação tendo em conta o actual contexto”.

Os próprios polícias estão descontentes e desmotivados, devido à nova tabela remuneratória que criou, segundo estes profissionais, injustiças a nível salarial, e vão “continuar com os protestos” se o governo “não corrigir a situação”.

Apesar disso, Paulo Rodrigues garante que “os polícias não deixarão de fazer o seu trabalho” se vierem a registar-se conflitos sociais com gravidade.

Foi a organização do movimento “Geração à rasca” a contactar a PSP e a porta-voz da manifestação, Paula Gil, deixa claro que “a violência serviria apenas para deslegitimar” a acção dos manifestantes. Paula Gil diz que o protesto será pacífico e não há nada a temer.

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