«A auditoria vai ter que distinguir
entre vários tipos de dívida. A primeira dívida é a dívida legítima, a dívida
legítima é aquela que cumpre a lei e onde há uma igualdade, digamos, de
posições negociais entre credores e devedores. Um interesse de credor e devedor
mais ou menos equilibrado, ao qual subjaz um interesse público do país que
contrai a dívida. Portanto não é apenas cumprir a lei a lei, é ter esta ideia
de igualdade que permite que as condições não sejam muito adversas para o
devedor. E portanto a ideia do interesse público é fundamental.
A dívida ilegítima é a dívida em
que, de alguma maneira, nós já não temos a situação de igualdade nas
circunstâncias em que os credores e os devedores se juntam, e portanto temos
aqui dívidas que já favorecem de uma maneira completamente injusta os
interesses dos credores e portanto lesam o interesse geral.
Há também a dívida legal. A dívida legal é aquela dívida que cumpre. Ela pode lesar o interesse nacional, mas pode ter cumprido todas as leis. Mas também pode ser uma dívida que à partida não cumpriu lei. Portanto, se ela não cumpriu lei é ilegal. Independentemente de ser legítima ou ilegítima, é ilegal. Uma dívida ilegal, não se deve pagar.
Portanto: a dívida ilegal não se
deve pagar, a dívida ilegítima não se deve pagar.
Há depois a dívida odiosa. A dívida
odiosa são os compromisso normalmente assumidos – isto tem acontecido muito
pelo mundo, enfim, não será aqui o nosso caso – assumidos pelos regimes
autoritários (como uma parte da dívida grega que ainda da vem da ditadura, mas
isso é outra coisa).
Por último: a dívida sustentável.
Nós temos que ver se a dívida é sustentável ou insustentável. Fundamentalmente,
aqui a sustentabilidade aqui tem que ver com a possibilidade de pagamento, mas,
mais do que isso, com as condições para que o pagamento tenha lugar. Ou seja,
com o crescimento e com o emprego. Não há outra maneira de podermos realizar
isto.»
Boaventura de Sousa Santos no Seminário “O que fazer com esta dívida? O que é a auditoria e como se faz”, por Eric Toussaint, em 30 de Junho 2011, no CES – Centro de Estudos Sociais (Lisboa): http://www.ces.uc.pt/eventos/index.php?id=4011&id_lingua=1
Sem comentários:
Enviar um comentário