quarta-feira, 9 de novembro de 2011

12 mil julgamentos militares e torturas no Egipto

Mensagem do Cairo para o Mundo

Apelo à Solidariedade com o Egipto: Defender a Revolução

Uma carta do Cairo para todos os movimentos Occupy/Decolonize e outros movimentos solidários.

Após viver três décadas sob uma ditadura, o povo Egípcio começou uma revolução exigindo pão, liberdade e justiça social. Ao fim de dezoito dias de uma quase utópica ocupação da Praça Tahrir, livrámo-nos de Mubarak e iniciámos a segunda e mais árdua tarefa de remover todo o seu aparelho de poder. Mubarak foi-se, mas o regime militar mantém-se. Assim, a revolução continua - pressionando, tomando as ruas e reivindicando o direito a controlar as nossas vidas e os nossos meios de subsistência contra sistemas repressivos que durante anos abusaram de nós. Mas agora, tão cedo após o seu início, a revolução está a ser atacada. Escrevemos esta carta para vos falar sobre aquilo a que estamos a assistir, como queremos opor-nos a esta repressão, e para apelar à vossa solidariedade.

25 e 28 de Janeiro, 11 de Fevereiro - vocês viveram estes dias connosco através da televisão. Mas nós continuámos a batalhar no 25 de Fevereiro, no 9 de Março, no 9 de Abril, no 15 de Maio, 28 de Junho, 23 de Julho, 1 de Agosto, 9 de Setembro, 9 de Outubro. Uma e outra vez o exército e a polícia atacaram-nos, espancaram-nos, prenderam-nos, mataram-nos. E nós resistimos, nós continuámos; uns dias perdemos, outros ganhámos, mas nunca sem custos. Mais de mil pessoas deram as suas vidas para depôr Mubarak. Muitas mais se juntaram a elas desde então. Nós continuamos para que as suas mortes não tenham sido em vão. Pessoas como Ali Maher (manifestante de 15 anos morto/a pelo exército na praça Tahrir, a 9 de Abril), Atef Yehia (baleado/a na cabeça por forças de segurança num protesto em solidariedade com a Palestina, a 15 de Maio), Mina Danial (baleado/a pelo exército num protesto em Maspero, frente à sede da TV estatal, a 9 de Outubro). Mina Daniel sofre em morte a perversa indignidade de estar na lista de acusados dos militares.

Para além disso, desde que a junta militar tomou o poder, pelo menos 12,000 de nós foram julgados/as por tribunais militares, sem possibilidade de chamar testemunhas e com acesso limitado a advogados. Há menores a cumprir penas em prisões de adultos, sentenças de morte, tortura generalizada e descontrolada. Manifestantes femininas foram alvo de agressões sexuais, sob a forma de "testes de virgindade", por parte do exército.

No dia 9 de Outubro, o exército massacrou 28 de nós em Maspero; esmagaram-nos com tanques e abateram-nos a tiro na rua enquanto manipulavam os media estatais para incitar à violência sectária. A história foi censurada. Os militares estão a investigar-se a si próprios. Estão a atingir sistematicamente aqueles de nós que não se calam. Este domingo, o nosso camarada e blogger Alaa Abd El Fattah foi preso por acusações falsas. Hoje ele passa mais uma noite numa cela às escuras.

Tudo isto feito pelos militares que supostamente assegurarão uma transição para a democracia, que afirmaram defender a revolução e que aparentemente convenceram muita gente no Egipto e a nível internacional que o fariam. A linha oficial tem sido a de manter a “estabilidade”, com garantias vazias de que o exército está apenas a criar um ambiente propício para as eleições que se aproximam. Mas mesmo uma vez eleito um novo parlamento, continuaremos a viver sob uma junta com autoridade e poderes legislativos, executivos e judiciais, sem nenhuma garantia que isto vá terminar. Quem desafia este estado de coisas é vítima de perseguição, encarceramento e tortura; o julgamento militar de civis é o principal instrumento desta repressão. As prisões estão cheias de "baixas" desta “transição”.
Recusamo-nos a cooperar com acusações e julgamentos militares. Não nos entregaremos, não nos submeteremos a interrogatórios. Se eles nos querem, que nos venham tirar das nossas casas e dos nossos locais de trabalho.

Após nove meses desta nova repressão militar, continuamos a lutar pela nossa revolução. Marchamos, ocupamos, fazemos greves e bloqueios. Também vocês estão a marchar, a ocupar, a fazer greves e bloqueio. Sabemos por todo o apoio que recebemos em Janeiro que o mundo estava a observar-nos atentamente e até a ser inspirado pela nossa revolução. Sentimo-nos então mais próximos de vocês do que alguma vez tínhamos sentido. E agora é a vossa vez de nos inspirarem, há medida que observamos as lutas dos vossos movimentos. Nós marchámos sobre a Embaixada dos Estados Unidos no Cairo em protesto contra a evacuação violenta da ocupação da Oscar Grant Plaza em Oakland. A nossa força está na partilha das nossa lutas. Se abafarem a nossa resistência, o 1% vencerá - no Cairo, em Nova Iorque, Londres, Roma - em todo o lado. Mas enquanto a revolução vive, a nossa imaginação não tem limites. Ainda podemos construir um mundo em que valha a pena viver.
Vocês podem ajudar-nos a defender a nossa revolução.

O G8, o FMI e os estados do Golfo prometem ao regime empréstimos no valor de 35 mil milhões de dólares. Os Estados Unidos dão ao exército egípcio 1,3 mil milhões por ano em ajudas. Governos por todo o mundo mantêm o seu apoio e a sua aliança de longa data com os governantes militares do EgIpto. As balas com que nos matam são feitas na América. O gás lacrimogéneo que queima de Oakland à Palestina é feito no Wyoming. A primeira visita de David Cameron ao Egipto pós-revolucionário foi para fechar um negócio de venda de armamento. Estes são apenas alguns exemplos. As vidas, as liberdades e os futuros das pessoas têm que parar de ser traficados por objectivos estratégicos. Temos que nos unir contra os governos que não partilham dos interesses dos seus povos.

Apelamo-vos à realização de acções de solidariedade para nos ajudar a opôrmo-nos a esta repressão.

Sugerimos um Dia Internacional para Defender a Revolução Egípcia a 12 de Novembro, sob o lema “Defender a Revolução Egípcia - Fim aos Julgamentos Militares de Civis”

As acções podem incluir:
Acções tendo como alvo Embaixadas ou Consulados do Egipto, exigindo a libertação dos civis condenados em julgamentos militares. Se Alaa fôr libertado, exijam a libertação dos outros milhares de pessoas.
Acções tendo como alvo os vossos governos para que retirem o seu apoio à junta militar egípcia.
Projecção de videos sobre a repressão que enfrentamos (julgamentos militares, o massacre de Maspero) e a nossa contínua resistência. Peçam-nos links por email.
Video-conferência com activistas no Egipto.
Qualquer forma criativa de mostrar o vosso apoio e fazer ver ao povo Egípcio que tem aliados no exterior.
Se pensam organizar alguma coisa, enviem-nos um mail para defendtherevolution@gmail.com. Também adoraríamos ver fotos e videos das acções que realizarem.

The Campaign to End Military Trials of Civilians
The Free Alaa Campaign
Mosireen
Comrades from Cairo

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