Ocupação simbólica em Londres

fonte: RTP

"OCCUPY LONDON"
Noventa por cento dos "indignados" de Londres dormem em casa
por Ana Sanlez, RTP actualizado às 16:33 - 26 outubro '11

Centenas de manifestantes acampam à volta da Catedral de Saint Paul em Londres desde 15 de outubroAndy Rain/EPA

Os responsáveis pela Catedral de Saint Paul, em Londres, querem impor sanções legais aos cerca de 200 manifestantes que estão acampados à frente do monumento. Segundo o diário britânico Daily Mail, 90 por cento dos “indignados” dormem em hotéis ou regressam a casa durante a noite.


O jornal publica na edição de hoje algumas fotografias tiradas na madrugada de segunda-feira, com recurso a uma câmara de imagens térmicas, referindo que a taxa de ocupação das dezenas de tendas montadas à frente de Saint Paul é de apenas dez por cento. O diário inglês sugere que "a maioria dos manifestantes (...) regressa a casa ou a um hotel para permanecerem quentes durante a noite".

As imagens divulgadas pela imprensa britânica foram alegadamente recolhidas por um helicóptero da polícia londrina, facto que não foi confirmado pelas autoridades.

"Temos empregos e família"

Os manifestantes refutaram as informações do Daily Mail através de um comunicado, no qual se mostraram "verdadeiramente surpreendidos". De acordo com o grupo, "é possível que nem todas as tendas estejam ocupadas à noite, tentamos manter as vagas no mínimo e funcionamos com um sistema de entra e sai".

"O acampamento atrai centenas de pessoas por dia. Não contamos que toda a gente seja capaz de passar aqui a noite. Somos pessoas normais, com empregos e família. Estamos a acampar para dar conta do nosso descontentamento por nos deixarem de fora do sistema político", referem.

Confrontado com as notícias, um dos "campistas" explicou que a maioria dos manifestantes tem de intercalar a vigília com o emprego e por isso não permanecem a tempo inteiro no acampamento, sendo que, no entanto, "deixam as tendas para serem usadas por outras pessoas".

"Está na hora de partirem"

Entretanto, os responsáveis pela Catedral de Saint Paul estão a avaliar a hipótese de agirem judicialmente contra a ação dos manifestantes. O que preocupa as autoridades é a hipótese de ser evocada a legislação dos Direitos Humanos para legitimar o protesto. Em comunicado, a polícia lançou um apelo ao grupo: "Esperamos que o bom senso prevaleça e que os campistas em redor da catedral reconheçam que estão a danificar a integridade do protesto com estas ações, e decidam desmobilizar de forma pacífica".

O Bispo de Londres encabeça o coro de protestos que pretende dispersar os "indignados": "Esta manifestação levantou, sem dúvida, várias questões importantes. No entanto, está na hora de os manifestantes partirem".

O mayor de Londres, Boris Johnson, reuniu na última terça-feira com representantes da polícia e da catedral, garantindo que "estamos todos a trabalhar para encontrar uma solução".

Os "indignados" afirmam estar "disponíveis para dialogar", enquanto mantêm que o acampamento cumpre todas as normas exigidas pela polícia.

Prejuízos de 23 mil euros por dia

Além de Saint Paul, Londres conta com um segundo acampamento "anti-capitalismo", em Finsburry Square. A porta-voz do grupo, Rose Litgow, afirmou ao diário espanhol El Mundo que o objetivo do novo ajuntamento é "acolher todas as pessoas que não cabem em Saint Paul".

A manifestante britânica descreve o espírito do protesto: "Recebemos muitas mensagens de solidariedade, ainda que haja gente que nos critique e não perceba os nossos motivos. Por isso temos sessões informativas e debates abertos a todo o mundo. Não queremos paralisar a cidade, queremos mantê-la viva".

O protesto que começou a 15 de outubro obrigou ao encerramento da Catedral ao público por razões de "saúde e segurança", o que acontece pela primeira vez desde a II Guerra Mundial. Segundo os responsáveis da Igreja, o movimento "Occupy London" está a causar prejuízos de 23 mil euros por dia.