domingo, 16 de outubro de 2011

15O em Madrid: Éric Toussaint faz um balanço da situação mundial e do movimento dos Indignados


Desde Fevereiro de 2003 é a primeira vez que um apelo a uma acção internacional numa data determinada recebe um tal eco. Em Espanha, donde a iniciativa partiu, perto de 500.000 manifestantes desfilaram nas ruas de cerca de 80 cidades diferentes – dos quais 200.000 ou mais em Madrid.

[Em Lisboa, cerca de 100.00 manifestantes marcharam em direcção ao Parlamento; aí realizaram uma assembleia popular, aprovaram o apelo a uma greve geral nacional, à continuação de diversas formas de luta, à suspensão do pagamento da dívida e ao arranque de um processo de auditoria cidadã da dívida pública.] Em 5 continentes  assistiu-se a acções populares. Mais de 80 países e cerca de um milhar de cidades viram desfilar centenas de milhares de jovens e adultos em protesto contra a gestão da crise económica internacional por governos que acodem em socorro de instituições privadas responsáveis pela derrocada e que dela tiram proveito para reforçar políticas neoliberais [...]. Por toda a parte o reembolso da dívida pública é o pretexto utilizado para reforçar a austeridade. Por toda a parte os manifestante denunciam os bancos.
Em Fevereiro de 2003 assistimos à maior mobilização internacional para tentar impedir uma guerra: a invasão do Iraque. Mais de 10 milhões de pessoas reuniram-se em inumeráveis manifestações em todo o planeta. Depois disso, a dinâmica do movimento altermundialista nascido ao longo dos anos 1990 abrandou progressivamente, sem no entanto desaparecer por completo.
Neste 15 de Outubro de 2011, manifestaram-se talvez menos pessoas, mas trata-se duma enorme vitória, porque é a primeira grande manifestação realizada em 24 horas em todo o mundo, contra os responsáveis pela crise capitalista que faz dezenas de milhões de vítimas. [...]
Nenhuma organização centralista convocou esta manifestação. O movimento dos Indignados nasceu em Espanha em Maio de 2011, após as rebeliões tunisinas e egípcias dos meses antecedentes [e após a espantosa manifestação de 12 de Março 2011 em Portugal, que deixou toda a gente de boca aberta ao pôr na rua, num só dia, quase meio milhão de pessoas indignadas, ou seja, cerca de 4% da população portuguesa]. Este movimento estendeu-se à Grécia em Junho de 2011 e a outros países europeus. Atravessou o Atlântico Norte desde Setembro de 2011. Evidentemente uma série de organizações políticas e de movimentos sociais organizados apoiam o movimento, mas não o conduzem. A sua influência é limitada. Trata-se de um movimento largamente espontâneo, jovem na sua maioria, com um enorme potencial de desenvolvimento que inquieta fortemente os governos, os dirigentes das grandes empresas e todos os polícias do mundo. Pode alastrar como fogo num palheiro, ou extinguir-se em cinzas. Ninguém sabe.
O 15 de Outubro de 2011, o apelo à mobilização, reuniu sobretudo manifestantes dos países do Norte e não poupou os centros financeiros do mundo inteiro, o que é prometedor. O movimento dos Indignados desencadeou uma dinâmica muito criativa e emancipadora. Se ainda não fazes parte, procura juntar-te a ela, ou lançá-la se ainda não existe no local onde vives. Unamo-nos para uma autêntica emancipação.

(texto de Éric Toussaint, 15-10-2011)
(tradução e notas de RuiVianaPereira)

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