A voz que fez uma pausa no 12 de Março
Soavam as 15 horas e a Praça da Batalha, no Porto, ganhava forma. Tentava-se contar: dois mil, três mil, cinco mil? De repente a praça cheia, de repente milhares, a impossibilidade de adivinhar um número. Cartazes erguidos, vozes revoltadas, discursos mais ou menos ensaiados.
A manifestação que é um teste à democracia portuguesa
São desempregados ou mal remunerados, falsos recibos verdes, contratados a prazo, trabalhadores intermitentes e estagiários eternos, trabalhadores-estudantes e estudantes que não conseguem ser trabalhadores. São filhos, pais, às vezes avós. Apagaram-lhes a luz ao fundo do túnel.
A etiqueta “geração à rasca”, com a qual se saiu às ruas na manifestação de 12 de Março, não chega. Percebeu-se isso naquele dia, quando se falou de 300 mil pessoas nas ruas de Lisboa, de 80 mil nas do Porto. Era um país de gente enlutada, enrascada, de futuros hipotecados.
Uma conversa de amigos que acabou em manifestação
Quando a música dos Deolinda estourou, um rastilho de revolta percorreu a internet. Eram quatro amigos - Alexandre de Sousa Carvalho, 25 anos, Paula Gil, 26, João Labrincha, 27, e António Frazão, 25 - mas rapidamente passaram a dez, a muitos, a não se sabe quantos.
O 12 de Março surgiu assim: sem preparação, sem profissionalismos, de forma laica, pacífica e apartidária. Por quatro amigos que decidiram juntar-se. Ninguém adivinhava a repercussão que acabaria por ter: 300 mil pessoas em Lisboa, 80 mil no Porto, gente espalhada por todo o país.
Uma manifestação para a “mudança global”
“No dia 15 de Outubro pessoas de todo o mundo tomarão as ruas e as praças. Da América à Ásia, de África à Europa, as pessoas estão a erguer-se para lutar pelos seus direitos e pedir uma autêntica democracia. Agora chegou o momento de nos unirmos num protesto não violento à escala global.”
O manifesto é mundial: foi traduzido em pelo menos 18 idiomas, vai juntar 71 países, 867 cidades. É um protesto global - "United for global change" -, inspirado no Movimento 15M, iniciado em Madrid.
“Nem sempre o presente está à medida dos nossos sonhos“
É a geração "à rasca" que dá nome ao primeiro livro de Ana Filipa Pinto. Geração a que também pertence. Licenciada, desde 2010, em Ciências da Comunicação, na vertente de Jornalismo, na Universidade Nova de Lisboa, Ana nasceu em 1989, em Oliveira do Hospital.
“À Rasca”, o livro que dá voz aos precários indignados
"Sujeitam-se a falsos recibos verdes, a serem considerados mão-de-obra barata ou, até mesmo, gratuita, acumulam estágios curriculares na esperança de ficarem e vão tentando pensar que ainda são jovens, que ainda têm muito por viver, que há quem esteja em situação pior, que tudo pode ser enriquecedor mesmo deixando os bolsos vazios", escreve Ana Filipa Pinto, de apenas 21 anos, no primeiro livro que publica.
“Geração à Rasca” volta às ruas no dia 15 de Outubro
O endurecimento recente das medidas de austeridade, os cortes nos apoios sociais e a falta de oportunidade de participar neste tipo de decisões levaram os organizadores do protesto Geração à Rasca, em conjunto com outras associações, a marcarem uma nova manifestação, desta vez para dia 15 de Outubro.
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