Promotores da manifestação de indignados querem fazer auditoria popular à dívida pública
08.10.2011 17:53
Uma "auditoria cidadã" à dívida pública é uma das propostas que vai ser apresentada à assembleia popular que se reunirá dia 15 frente ao parlamento após a manifestação que começará na rotunda do Marquês de Pombal, também em Lisboa.
"Neste momento estamos a pagar algo que não sabemos de onde vem (...) nem a quem devemos", afirmou, numa entrevista à agência Lusa, Paula Gil, dirigente do Movimento Doze de Março (M12M), uma das quase 30 organizações que convocaram o desfile do próximo sábado na capital e noutras cidades do país.
Democracia participativa, iniciativa legislativa do cidadão e transparência são os três vetores principais em que apostam os organizadores, um núcleo de oito pessoas que adotou como nome a data da manifestação realizada a 12 de Março em Lisboa e que reuniu mais de 200 mil pessoas, na maior concentração realizada nos últimos anos em Portugal.
Terminar o desfile de sábado na Assembleia da República é "simbólico" e pretende lembrar os deputados de que a voz dos cidadãos tem de ser ouvida. "As políticas têm que ser discutidas com as pessoas", considera Paula Gil.
Independentemente da adesão que venha a registar, a manifestação "é, por si só, já um sucesso", sustenta, atendendo a que originou uma plataforma de movimentos sociais e cívicos, que se "juntaram em torno de uma mobilização contra a situação em que vivemos".
A sociedade portuguesa é atualmente atingida por uma "situação insustentável, de agressão direta às pessoas, em que o Estado se comporta como se o seu primeiro objetivo fosse a proteção dos credores e dos mercados e não a proteção das pessoas", advoga a ativista de 27 anos, uma portuense licenciada em Relações Internacionais na Universidade de Coimbra, tal como os restantes três fundadores do M12M.
Para alterar a situação e efetivar as teorias que defendem, Paula Gil aponta como caminho possível o exemplo do Brasil, onde foi criado um movimento batizado Controlo Social que integra os cidadãos comuns, mas também especialistas, que se envolvem na política, contribuindo no processo de tomada de decisões.
Um dos resultados já evidenciados é a "baixa significativa da corrupção", aponta.
"O que é preciso nos dias 16, 17 (a seguir à manifestação) é a mudança de mentalidades e de consciências, que as pessoas sem envolvam na política, que deem a sua opinião, que deem a sua voz", desafia Paula Gil.
Embora considerando "essencial" o papel dos partidos e dos sindicatos no atual sistema político, a dirigente do M12M considera que, para haver um "complemento total na sociedade", às organizações tradicionais "devem juntar-se as pessoas".
"Apelo a que venham todos, porque neste momento estamos todos a ser atacados" com os cortes nos salários e subsídios e nos aumentos de impostos e bens essenciais.
Até agora, os organizadores contabilizam um fator negativo que lhes veio causar alguma perplexidade: a notícia de que as autoridades policias temem que a movimentação social de dia 15 poderá degenerar nos maiores tumultos registados em Portugal depois de 1975, durante o chamada PREC (Período Revolucionário em Curso).
"É uma acusação muito grave" que só pode ocorrer por uma de três razões: "ou esses tumultos estão planeados e vamos ser infiltrados e vão acontecer tumultos como em Espanha, ou foi uma forma de desviar a atenção por não estarmos (Portugal) a cumprir o défice ou uma forma de criar medo e levar as pessoas a desmobilizarem", sustenta.
Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário